No Brasil, o termo "espiritismo" é historicamente utilizado como designação por algumas casas e associações das religiões afro-brasileiras, e seus membros e frequentadores definem-se como "espíritas". Como exemplo, citam-se a antiga Federação Espírita de Umbanda e a atual Congregação Espírita Umbandista do Brasil, no estado do Rio de Janeiro.
No Brasil Império a Constituição de 1824 estabelecia expressamente que a religião oficial do Estado era o Catolicismo. No último quartel do século XIX, com a difusão das idéias e práticas espíritas no país, registraram-se choques não apenas na imprensa, mas também a nível jurídico-policial, nomeadamente em 1881, quando uma comissão de personalidades ligadas à Federação Espírita Brasileira reuniu-se com o Chefe de Polícia da Corte e, subsequentemente, com o próprio Imperador D. Pedro II, e após a Proclamação da República Brasileira, agora em função do Código Penal de 1890, quando Bezerra de Menezes oficiou ao então presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca, em defesa dos direitos e da liberdade dos espíritas. Outros momentos de tensão registrar-se-iam durante o Estado Novo nomeadamente em 1937 e em 1941, o que levou a que a prática dos cultos afro-brasileiros conhecesse uma espécie de sincretismo sob a designação "espiritismo", como em época colonial o fizera com o Catolicismo.
A própria Federação Espírita Brasileira chegou a publicar, em 1953, em seu órgão oficial, que os umbandistas poderiam ser considerados "espíritas", com o seguinte argumento: "Baseados em Kardec, é-nos lícito dizer: todo aquele que crê nas manifestações dos espíritos é espírita; ora, o umbandista nelas crê, logo, o umbandista é espírita." Esse raciocínio causou polémica à época. Anos mais tarde, em 1958, o Segundo Congresso Brasileiro de Jornalismo e Escritores Espíritas opôs-se considerar os umbandistas como espíritas. Duas décadas mais tarde, em 1978 o mesmo Reformador publicou que a designação de "espíritas" pelos umbandistas é "imprópria, abusiva e ilegítima".
Na prática, sinteticamente, as semelhanças entre a prática Umbanda e a Doutrina Espírita são: a comunicação entre os vivos e os mortos, admitindo ambas, por conseguinte, a sobrevivência à morte do chamado "espírito"; a evolução do espírito através de vidas sucessivas (reencarnação); o resgate, podendo ser pela dor e sofrimento, das faltas cometidas em anteriores existências; a prática da caridade.
Por outro lado, as principais diferenças são a admissão pela Umbanda: de cerimônias litúrgicas como o batizado e o matrimônio; a presença de imagens em seus cultos; o emprego de plantas em seus cultos; a música dos pontos cantados para as entidades.
De todas as religiões afro-brasileiras, a mais próxima da Doutrina Espírita é um segmento (linha) da Umbanda denominado de "Umbanda branca", que guarda pouca ligação com o Candomblé, o Xambá, o Xangô do Recife, o Tambor de Mina ou o Batuque.
No tocante especificamente ao Candomblé, crê-se na sobrevivência da alma após a morte física (os Eguns), e na existência de espíritos ancestrais que, caso divinizados (os Orixás, cultuados coletivamente), não se materializam; caso não divinizados (os Egungun), materializam em vestes próprias para estarem em contacto com os seus descendentes (os vivos), cantando, falando, dando conselhos e auxiliando espiritualmente a sua comunidade. Observe-se que o conceito de "materialização" no Candomblé, é diferente do de "incorporação" na Umbanda ou na Doutrina Espírita. Em princípio os Orixás só se apresentam nas festas e obrigações para dançar e serem homenageados. Não dão consulta ao público assistente, mas podem eventualmente falar com membros da família ou da casa para deixar algum recado para o filho. O normal é os Orixás se expressarem através do jogo de Ifá (oráculo).
No Candomblé, a função dos rituais durante as cerimônias de iniciação é a de afastar todo e qualquer espírito ou influência, recorrendo-se ao Ifá para monitorar a sua presença. A cerimônia só ocorre quando este confirma a ausência de Eguns no ambiente de recolhimento. Os espíritos são cultuados, nas casas de Candomblé, em uma casa em separado, sendo homenageados diariamente uma vez que, como Exú, são considerados protetores da comunidade.
O objetivo deste texto é, de maneira simples e direta, demonstrar as diferenças existentes entre a Religião de Umbanda e a Religião de Candomblé.
Umbanda e Candomblé são religiões extremamente distintas. Claro, possuem alguns elementos em comum, como por exemplo a devoção aos Orixás, o uso de miçangas e atabaques. Entretanto, as diferenças são muito maiores do que as semelhanças.
Ressalta-se, porém, que essas diferenças não impedem o respeito que devemos ter com nossos irmãos Candomblecistas, assim como devemos respeitar as demais religiões. E começamos a respeita-los quando não usamos de seus elementos sem fundamento, sem conhecimento e sem preparo.
Infelizmente vemos por aí pessoas que, por ignorância, acabam colocando as duas religiões em um mesmo “panelão”, desvirtuando, ao mesmo tempo, as duas crenças.
Umbanda e Candomblé comparam-se ao Cristianismo e o Islamismo. Possuem fundamentos, ritos, visões, interpretações completamente diferentes. É impossível imaginar um Imam (sacerdote muçulmano) realizando um batismo em nome de Jesus Cristo. Ou, ao revés, um padre católico reverenciando Maomé. O mesmo se dá entre essas duas religiões afro-brasileiras.
Não se imagina um Pai de Santo da Umbanda fazendo raspagem e bori, dando iniciação no Candomblé a uma pessoa ou dando-lhe o título de Babalorixá. Assim como é inimaginável (apesar de existir casos, infelizmente), a realização de rituais de Candomblé com “entidades” de Umbanda no comando, para uma suposta iniciação na Umbanda.
Tais práticas são ultrajantes às duas religiões. As duas possuem seus próprios fundamentos e ritos, não havendo qualquer necessidade de serem mescladas.
As diferenças entre essas duas Religiões começam em sua base.
A Umbanda é uma religião brasileira, nascida em 1908, por meio do Médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu guia, o Caboclo das 7 Encruzilhadas. É uma religião que, rompeu com o Espiritismo, apesar de trazer ainda consigo alguns de seus elementos, e absorveu também elementos das crenças indígenas, católicas e africanas.
O Candomblé, (apesar da forma com que conhecemos exista apenas no Brasil), é oriundo da junção das nações trazidas da África pelos escravos. Ou seja, tratam-se de cultos Africanos, dedicados aos Orixás, Nkises e Voduns (Ketu, Angola e Jeje). Dessa maneira, as cantigas, os rituais, as rezas e oferendas, são as mesmas utilizadas pelos ancestrais africanos outrora.
A Umbanda trabalha com espíritos, os quais são chamados de guias. São entidades que trabalham na energia do Orixá. São falanges de Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Ciganos, Marinheiros, Exus e Pombogiras. São essas as entidades que comandam a gira, que realizam os amacis, batismo, cruzamentos, etc. Além disso, tais entidades, dão passes, realizam curas, descarregos, falam e se utilizam de elementos como o fumo e o álcool.
No Candomblé não existe a manifestação de espíritos. Nessa Religião, os espíritos são chamados de Eguns, e são excluídos das chamadas rodas. (existem algumas casas que possuem o fundamento de Baba Egungun, ritual onde se manifesta os ancestrais). Todavia, o que se manifestas nas sessões de Candomblé são as energias dos Orixás. Tais energias fazem com que o iniciado, chamado de Iyaô entre em “transe”. Todavia, esse “transe” é bem diferente da chamada incorporação existente na Umbanda. Além disso, o iniciado quando manifestado pelo Orixá apenas dança seu ritmo. Não fala, não fuma, não bebe, não dá consultas, etc. Apenas chega, reverencia seus Babas e dança suas cantigas, nada mais.
Na Umbanda, os toques de atabaque são realizados com as mãos e são acompanhados por cantos em português. Ora, se nossas entidades falam o português, porque iremos chamá-las em outras línguas? Seria no mínimo, uma falta de respeito! O ponto cantado, nada mais é que uma oração cantada, devendo ser cantado com todo o respeito, sabendo o por que de cada palavra. São cantos de chamada, de reverência, de trabalho e de subida.
No Candomblé, os toques variam de acordo com a nação. Se for Ketu, os toques serão entoados com toques de varetas (Aguidavi), acompanhados por cantigas no dialeto Yorubá, língua daquelas divindades. Na nação Angola, o toque é realizado com as mãos, acompanhada por cantigas no dialeto Bantu. Na nação Jeje, os toques também são realizados com as mãos, e as cantigas são feitas em um de seus dialetos (Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc.). São cantigas que fazem referencias aos itans, ou seja, lendas sobre os Orixás, Nkises e Voduns.
A Umbanda trabalha com 9 Orixás, os quais estão distribuídos na chamada 7 Linhas de Umbanda. São eles: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Nana Burukê e Obaluaê/Omulú. Vale lembrar que na Umbanda não existe incorporação de Orixás, mas sim, de espíritos e falangeiros que trabalham na sua energia.
O Candomblé
No Ketu, reverencia-se Orixás.
Na nação Jeje os Voduns.
Na Angola Nkises,
O Candomblé Ketu trabalha com as chamadas “qualidades” de Orixás, como por exemplo, Oxalá que possui as qualidades de Oxalufã (velho) e Oxaguiã (moço) "a grosso modo".
A Umbanda não possui qualidades de Orixás.
O Candomblé possui suas cores e interpretações para os Orixás.
A Umbanda possui outras cores e interpretações.
O sacerdote de Umbanda é chamado de Pai de Santo, Pai de Terreiro, Cacique, ou simplesmente Dirigente (o correto).
O sacerdote de Candomblé é chamado de Babalorixá, alguns possuem o título de Babalaô. As mulheres são chamadas de Yalorixá. Só podem utilizar esses títulos que de fato teve iniciação no Candomblé e passou pelas raspagens, boris, etc.
Esses são apenas algumas das diferenças. Como se pode perceber, as duas possuem uma estrutura, organização e rituais completamente distintos. Por isso nós, Umbandistas, devemos zelar pela pureza de nossa fé, evitando a introdução de elementos que não condizem com nossa religião. Assim também, os Candomblecistas, devem pregar a pureza de seu culto, evitando a mesclagem indevida e o desvirtuamento do culto milenar.
As terras de Ketu ficavam em um planalto de terra dura e avermelhada, constituída de laterita, debruçando a leste em um pequeno barranco.
Embora seja considerado um dos mais antigos povoamentos yorubás, não há registros históricos precisos sobre a fundação de Ketu. Ao contrário, existem inúmeras versões diferentes a esse respeito. Três delas merecem ser citadas.
As mais recentes pesquisas conferem a honra ao rei Edé, 6º sucessor de Isa-Ipasan (o chicote de deus), nome de um príncipe da lendária cidade de Ilê Ifé, que havia se exilado espontaneamente devido a disputas pelo trono e migrado 200km a oeste, levando consigo mulheres, filhos, servidores e centenas de famílias.
O rei Edé, teria partido da cidade de Aro a oeste, em direção às terras fons. Conduzido por seu parente, o caçador Alalumon, foi levado a um local alto, à sombra de um grande pé de Iroko, onde Alalumon costumava pendurar sua bolsa de caça, quando parava para repousar e se alimentar.
Foi ali, nas proximidades da sombra daquele Iroko, que Edé e as 120 famílias que o seguiram, dariam início ao famoso Reino de Ketu.
Essa é a versão tradicionalmente contada em Ketu sobre a mítica fundação da cidade. Contudo, os ketuenses consideram como primeiro Alaketu o príncipe Isa-Ipasan, ancestral de Edé – como forma de frisar a descendência da dinastia de Ifé.
Esse famoso Iroko sobreviveu até o século XX. Apenas sucumbiu de velhice em 1922. Mas ainda hoje é conhecido no bairro de Massafè como o “Iroko de Alalumon”.
Há também a teoria de que o Reino de Ketu teria sido fundado por Obassin, filho de Odudua,. Obassin, irmão de Ogun, teria lutado contra os igbôs e depois marchado com seu grupo até o local onde se fixou, estabelecendo assim a cidade de Ketu.
Outros historiadores defendem a tese de que Ketu foi povoado por moradores de Oyó. Estes, pressionados por várias guerras locais, entre os séculos X e XIII, teriam migrado a oeste e criado a nova cidade.
Daí a justificativa para que durante certo período o Reino de Ketu pagasse tributos a Oyó.
O Povo ewé, tradicionalmente refere-se a Ketu como Amedzofe (“a origem da humanidade”), ou ainda como Mawufe (“casa do Ser Supremo”).
O nome da cidade teria sido escolhido de forma alegórica por uma reunião do conselho formado pelos oloyés (os do alto escalão). Os oloyés eram escolhidos diretamente pelo rei, dentre os membros das mais importantes famílias do reino.
Nas proximidades de onde fora erguida a porta fortificada de Idena, na entrada do povoado, morava um corcunda. Então alguém promoveu o desafio: Quem endireita a corcunda? Quem destrói a cidade? (“Ké tu kéé? Ké fo lu?”). E para concretizar o desafio decidiram sacrificar o corcunda e enterrá-lo em frente à porta da cidade.
O reino foi batizado assim de “Ketu” e o seu rei de Alaketu (o feiticeiro de Ketu).
Ketu ganhou fama e riqueza ao se transformar em importante entreposto comercial das terras yorubás.
O Reino chegou a ter ceca de 30 mil habitantes, divididos em 15 bairros: Idena, Massafè, Ijabo, Iradigban, Isako, Ijiba, Odi, Aro, Osè, Aguidigbo, Dagbanji, Iguiolu, Idajè, Asubi e Ita-Oba (capital).
Cada bairro possuía sua própria milícia, comandada por um balogun (iba l´Ogun – chefe de guerra). O contingente dessas milícias variava entre cem e quinhentos homens.
Os soldados além de manejar seus facões e demais armas brancas, já utilizavam espingardas e canhões de origem européia, adquiridas junto a comerciantes de Badagri, Lagos e Porto Novo.
Sá, o décimo rei de Ketu, após Edé o mais famosos Alaketu, motivado pelos constantes ataques dos fons, resolveu aumentar a proteção da cidade, mandando construir muros, fossos e reforçando o portal de entrada, a famosa porta de Idena.
Dizem que Sá traçou pessoalmente os muros em torno da cidade, formando uma elipse um pouco irregular. O comprimento total tinha 3.300m, com 4 m de altura. A parte maior media 1.100 m e a menor 965 m. Os muros resguardavam uma área de 85 hectares. Os fossos tinham entre 3 e 4 m de profundidade e mediam de 5 a 8 m de largura.
A lenda conta que o rei Sá era mágico e por isso havia designado dois gigantes para construir a muralha: Ajibodu e Oluwodu. Ambos dormiam de dia e só trabalhariam à noite. Por isso ninguém os via.
Para materializar a história, foi desenhada a marca de uma enorme mão na parte interna do muro, próximo à entrada do portal.
O mítico portal de entrada da cidade de Ketu foi chamado de Akaba Idéré (a porta de Iderê – cidade natal do seu construtor); depois apelidada de Odi-Ona (o caminho está fechado) e finalmente imortalizada como Akaba Idena (a porta de Idena).
Dizem que o arquiteto que a construiu, consagrou o portal com rituais e sacrifícios, conferindo à mesma, poderes sobrenaturais.
Até mesmo nos dias de hoje, tradicionalmente são imolados carneiros ou cabritos em louvor ao espírito guardião da Porta de Idena. No passado, em épocas de guerras, bois e até humanos eram imolados ao portal.
Em 1886, quando Ketu foi tomada pelo rei Glele, o portal foi arrancado do lugar de origem e levado como troféu para o Abomé.
Os antigos contam que chegando no reino usurpador, o portal teria se erguido sozinho, mostrando o descontentamento do espírito do Portal.
O Portal de Idena foi reparado e ainda hoje é reverenciado em Ketu.
A Cidade de Ketu chegou a ser a capital dos yorubás, em 1.500.
A luta pela terras cultiváveis e pelo controle do comércio na região, levou a vários confrontos entre os ketus com os fons de Abomé.
A partir de 1880, no reinado de Osun Ojeku, o Reino de Ketu foi tomado duas vezes pelos daomeanos e começaria a ser devastado. Milhares de cidadãos de Ketu seriam então aprisionados e vendidos como escravos, praticamente extinguindo sua história, sua cultura e sua religião nas terras africanas. A tradição de Ketu mudaria seu endereço para o Brasil…
Em 1886, Ketu foi totalmente conquistado pelo Daomé, passando a ser regido por Agidigbo Hungbo. Sete anos depois (1893), a França toma a Cidade e a torna um protetorado.
No ano de 1963, já no século XX, o Estado de Ketu é extinto, enquanto o reinado era de Alamu Adéwori Adégibité, o 48º Alaketu.
O antigo Reino de Ketu foi cortado ao meio no período do colonialismo europeu na África. Parte ficou dentro do território da República do Benin e a outra parte dentro da Nigéria.
A tradição concentrou-se em maior número na área de Mèko, no lado nigeriano. Nesta localidade, ainda existe o Alàketú, que exerce funções simbólicas e é respeitado como símbolo cultural.
Atualmente Ketu é um pequeno vilarejo, com cerca de 10 Km2, que acomoda uma população média de 22.300 pessoas.
Referências
↑ Law, R 1977, The Oyo Empire, Clarendon Press, Oxford, p.141
Parrinder, E.G. The Story of Ketu: An ancient Yoruba kingdom. Ibadan, Nigeria , Ibadan University Press, 1956.