Exu é o mais sutil e o mais astuto de todos os orixás.
Ele aproveita-se de suas qualidades para provocar mal-entendidos e discussões entre as pessoas ou para preparar-lhes armadilhas.
Ele pode fazer coisas extraordinárias como, por exemplo, carregar, numa peneira, o óleo que
comprou no mercado, sem que este óleo se derrame desse estranho recipiente! Exu pode ter matado um pássaro ontem, com uma pedra que jogou hoje!
Se zanga-se, ele sapateia uma pedra na floresta, e esta pedra põe-se a sangrar! Sua cabeça é pontuda e afiada como a lâmina de uma faca.
Ele nada pode transportar sobre ela.
Exu pode também ser muito malvado, se as pessoa se esquecem de homenageá-lo. É necessário, pois, fazer sempre oferendas a Exu, antes de qualquer outro orixá.
A segunda-feira é o dia da semana que lhe é consagrado. É bom fazer-lhe oferendas neste dia, de farofa, azeite de dendê, cachaça e um galo preto. Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-lhe as oferendas devidas. Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça.
As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.
Exu, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-lhes um golpe à sua maneira.
Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que era branco do lado direito e vermelho do lado esquerdo.
Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou -os:
"Bom trabalho, meus amigos!" Estes, gentilmente, responderam-lhe:
"Bom passeio, nobre estrangeiro!"
Assim que Exu afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu companheiro:
"Quem pode ser este personagem de boné branco?"
"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo à esquerda.
"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe! " "Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!"
"Ele era branco, tratas-me de mentiroso?" "Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?"
Cada um dos amigos tinha razão e estava furioso da desconfiança do outro. Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.
Exu estava vingado!
Isto não teria acontecido se as oferendas a Exu não tivessem sido negligenciadas. Pois Exu pode ser o mais benevolente dos orixás se é tratado com consideração e generosidade.
Há uma maneira hábil de obter um favor de Exu.
É preparar-lhe um golpe mais astuto que-aqueles que ele mesmo prepara.
Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam áridos, a chuva não caía.
As rãs choravam de tanta sede e os rios
estavam cobertos de folhas mortas, caídas das árvores. Nenhum orixá invocado escutou suas queixas e gemidos.
Aluman decidiu, então, oferecer a Exu grandes pedaços de carne de bode. Exu comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado. Exu teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!
Exu foi à torneira da chuva e abriu-a sem pena. A chuva caiu.
Ela caiu de dia, ela caiu de noite.
Ela caiu no dia seguinte e no dia de depois, sem parar. Os campos de Aluman tomaram-se verdes.
Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:
”Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes! Joro, jara, joro Aluman, Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas! Joro, jara, joro Aluman, Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca! Joro, jara, joro Aluman! ”
E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar!
Aluman, reconhecido, ofereceu a Exu carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta. Havia chovido bastante. Mais, seria desastroso!
Pois, em todas as coisa, o demais é inimigo do bom.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Ogum era o mais velho e o mais combativo dos filhos de Odudua, o conquistador e rei de Ifé. Por isto, tomou-se o regente do reino quando Odudua, momentaneamente, perdeu a visão.
Ogum era guerreiro sanguinário e temível.
"Ogum, o valente guerreiro, o homem louco dos músculos de aço! Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum lutava sem cessar contra os reinos vizinhos.
Ele trazia sempre um rico espólio de suas expedições, além de numerosos escravos. Todos estes bens conquistados, ele entregava a Odudua, seu pai, rei de Ifé.
"Ogum o violento guerreiro, o homem louco, dos músculos de aço. Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
Ogum teve muitas aventuras galantes.
Ele conheceu uma senhora, chamada Elefunlosunlori" aquela-que-pinta-a-cabeça-com-pó- branco-e-vemelho.',
Era a mulher de Orixá Okô, o deus da Agricultura.
De outra feita, indo para a guerra, Ogum encontrou, à margem de um riacho, uma outra mulher, chamada Ojá, e com ela teve o filho Oxóssi.
Teve, também, três outras mulheres que tomaram-se, depois, mulheres de Xangô,
Kawo Kabieyesi Alafin Oyó Alayeluwa!
Saudemos o Rei Xangô, o dono do palácio de Oyó, Senhor do Mundo!"
A primeira, Iansã, era bela e fascinante; a segunda, Oxum, era coquete e vaidosa; a terceira, Obá, era vigorosa e invencível na luta.
Ogum continuou suas guerras. Durante uma delas, ele tomou Irê. Antigamente, esta cidade era formada por sete aldeias.
Por isto chamam-no, ainda hoje, Ogum mejejê lodê lrê "Ogum das sete partes de Irê"
Ogum matou o rei Onirê e o substituiu pelo próprio filho, conservando para si o título de Rei. Ele é saudado como Ogum Onirê! "Ogum Rei de Irê!"
Entretanto, ele foi autorizado a usar apenas uma pequena coroa, "akorô".
Daí ser chamado, também, de Ogum Alakorô - "Ogum dono da pequena coroa". Após instalar seu filho no trono de Irê,
Ogum voltou a guerrear por muitos anos.
Quando voltou a Irê, após longa ausência, ele não reconheceu o lugar.
Por infelicidade, no dia de sua chegada, celebrava-se uma cerimônia, na qual todo mundo devia guardar silêncio completo.
Ogum tinha fome e sede.
Ele viu as jarras de vinho de palma, mas não sabia que elas estavam vazias. O silêncio geral pareceu-lhe sinal de desprezo.
Ogum, cuja paciência é curta, encolerizou-se.
Quebrou as jarras com golpes de espada e cortou a cabeça das pessoas.
A cerimônia tendo acabado, apareceu, finalmente, o filho de Ogum e ofereceu-lhe seus pratos prediletos: caracóis e feijão, regados com dendê; tudo acompanhado de muito vinho de palma.
"Ogum, violento guerreiro, o homem louco dos músculos de aço. Ogum, que tendo água em casa, lava-se com sangue!"
"Os prazeres de Ogum são o combate e as brigas. O terrível orixá, que morde a si mesmo sem dó!
Ogum mata o marido no fogo e a mulher no fogareiro. Ogum mata o ladrão e o proprietário da coisa roubada!"
Ogum, arrependido e calmo, lamentou seus atos de violência, e disse que já vivera bastante, que viera agora o tempo de repousar.
Ele baixou, então, sua espada e desapareceu sob a terra. Ogum tomara-se um orixá.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas.
Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames. Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-e no pátio.do seu palácio.
Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda, seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores soavam para saudá-lo.
As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma. Elas comemoravam e brincavam.
De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa. O pássaro voava à direita e voava à esquerda ...
Até que veio pousar sobre o teto do palácio. A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras, furiosas porque não foram também convidadas para a festa. O pássaro causava espanto a todos!
Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça, o portal da entrada.
As pessoas assustadas comentavam:
"Ah! Que esquisita surpresa?"
"Eh! De onde veio este desmancha-prazer?" "lh! O que veio fazer aqui?"
"Oh! Bicho feio de dar dó!" "Uh! Sinistro que nem urubu!" "Como nos livraremos dele?"
"Vamos, rápido, chamar os caçadores mais hábeis do reino."
De ldô, trouxeram Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas". O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas.
Oxotogun afirmou:
"Que me cortem a cabeça se eu não o matar!"
E lançou suas vinte flechas, mas nenhuma atingiu o enorme pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas". O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas quarenta flechas. Oxotogí afirmou:
"Que me condenem à morte, se eu não o matar!"
E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro. o rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas". Oxotodotá afirmou: "Que exterminem toda a minha fanulia, se eu não o matar".
Lançou suas cinquenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só". O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha.
Oxotokanxoxô afirmou:
"Que me cortem em pedaços se eu não o matar!"
Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
"Ah! - disse-lhe o babalaô.
"Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tomar-se-á riqueza."
E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse às feiticeiras.
A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi, rápido, colocar na estrada, gritando três vezes:
"Que o peito do pássaro aceite este presente!"
Foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha.
O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro. Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então. A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito.
O pássaro caiu pesadamente, se debateu e morreu. A notícia espalhou-se:
"Foi Oxotokanxoxô, o "Caçador de uma flecha só", que matou o pássaro! O Rei lhe fez uma promessa, se ele o conseguisse!
Ele ganhará a metade da sua fortuna!
Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!!"
Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa,
Oxotogun, o "Caçador das vinte flechas", ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios; Oxotogí, o "Caçador das quarenta flechas", ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o "Caçador das cinquenta flechas", ofereceu-lhe cinquenta.
E todos cantaram para Oxotokanxoxô.
O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô:
"Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
"O caçador Oxo é popular!"
E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowui!! Oxowusi!!!
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Orunmilá consultou Ifá, antes de deixar Ifé, para ir-se a um país de vales. Os adivinhos lhe disseram:
"Neste país de vales, onde pretendes ir, encontrarás um bom amigo. Deves fazer oferendas antes de partir, para que tua viagem seja feliz." Orunrnilá fez as oferendas.
Ele ofereceu quatro pombos e oito mil búzios da costa. Quando ele chegou lá, quando Orunmilá chegou naquele país de vales, ele tomou-se amigo de Erinlê. Erinlê é um caçador.
Erinlê é também um guerreiro. Erinlê é, além de tudo, um orixá. Esta amizade foi grande.
Erinlê tomou dinheiro emprestado a Orunmilá.
O montante deste empréstimo foi de doze mil búzios. Quando chegou a hora de Orunmilá retomar à casa de Ifé, Erinlê teria de reembolsar o empréstimo.
Mas ele não tinha dinheiro.
Ele sentiu vergonha e foi consultar Ifá:
"Onde poderei encontrar este dinheiro?"
Os adivinhos lhe aconselharam a oferecer um carneiro, um galo e um cachorro. Disseram-lhe, ainda, que deveria oferecer vinte e um sacos de búzios da costa. Erinlê exclamou:
"Ahl Já devo doze mil búzios!
Onde poderei encontrar todas estas coisas?" Erinlê tinha um talismã na mãos.
A qualquer momento ele poderia, graças a este talismã, transformar-se em água. Quando ele assim o desejasse.
Erinlê foi, então, ao lugar onde costumava caçar. Pôs o talismã no chão e entrou terra adentro.
Neste lugar havia uma jarra com água.
Seus filhos o procuraram durante muito tempo.
Eles foram consultar Orunmilá para que ele examinasse o caso. Orunmilá lhes disse: "Façam oferendas para encontrar vosso pai.
Talvez não o vereis mais, mas encontrarão um sinal dele." Disse-Ihes, ainda, que oferecessem sete cachorros, sete carneiros, sete galos e vinte e um sacos de búzios da cota.
Os filhos de Erinlê fizeram as oferendas.
Orunmilá lhes dissera, também, que deveriam ir com os carneiros, os cães e os galos, chamar pelo pai.
E eles foram.
Percorreram todos os lugares onde Erinlê costumava ir.
Quando chegaram ao local onde Erinlê entrara terra adentro, encontraram seus instrumentos de caça: fuzil, lança, arco e flechas.
Todo o material que ele usava para caçar.
E, bem no meio disso tudo, eles viram a jarra com água. Esta água começou a escorrer.
Esta água era abundante.
Os filhos saudaram o pai assim:
"Oh! Erinlê, o caçador, retorne à casa!
Nós oferecemos carneiro, cachorro e galos!" E chamaram Erinlê, sem descanso.
Quando eles ofereceram estas coisas, o rio os seguiu no caminho de casa. Erinlê lhes disse para deixar os galos livres, no lugar onde os encontraram.
Os galos que naquele dia eles deixaram livres, são os galos que Erinlê cria perto de seu rio, até hoje. Ninguém ousa matá-los.
Certa vez, pessoas ignorantes mataram alguns. Mas os galos ressuscitavam sempre.
Dede que o prato estivesse pronto, os galos saltavam da tigela, batiam novamente suas asas - Puf! Puf! Puf!
E iam empoleirar-se numa árvore Akô, cantando de novo seu cocoricô!
No mesmo momento em que Erinlê, o rio, se pôs a correr, Oxum preparava-se para partir da cidade de Ijumu.
Ela também se pôs a correr.
E eles se encontraram perto de Edé.
Ali onde se encontraram, o leito destes rios é suave - eles estão felizes.
Suas águas formaram um grande rio e o curso de ambos tomou-se um mesmo. Juntos, eles correm para a lagoa.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Ossain recebera de Olodumaré o segredo das folhas. Ele sabia que algumas delas traziam a calma ou o vigor.
Outras, a sorte, as glórias, as honras, ou, ainda, a miséria, as doenças e os acidentes. Os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta.
Eles dependiam de Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas. Xangô, cujo temperamento é impaciente, guerreiro e imperioso, irritado com esta desvantagem, usou de um ardil para tentar usurpar, de Ossain, a propriedade das folhas. Falou do plano à sua esposa Iansã, a senhora dos ventos.
Explicou-lhe que, em certos dias, Ossain pendurava, num galho de lroko,
uma cabaça contendo suas folhas mais poderosas.
"Desencadeie uma tempestade bem forte num desses dias", disse-lhe Xangô. Iansã aceitou a missão com muito gosto.
O vento soprou a grandes rajadas, levando o telhado das casas, arrancando as árvores,
quebrando tudo por onde passava e,
o fim desejado, soltando a cabaça do galho onde estava pendurada. A cabaça rolou para longe e todas as folhas voaram.
Os orixás se apoderaram de todas.
Cada um tomou-se dono de algumas delas,
mas Ossain permaneceu senhor do segredo de suas virtudes
e das palavras que devem ser pronunciadas para provocar sua ação. E, assim, continuou a reinar sobre as plantas, como senhor absoluto. Graças ao poder (axé) que possui sobre elas.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Ossaim, filho de Nana e irmão de Oxumarê, Ewa e Obaluaê, era o senhor da folhas, da ciência e das ervas, o orixá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos o orixás recorriam a Ossaim para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Ossaim na luta contra a doença. Todos iam à casa de Ossaim oferecer seus sacrifícios. Em troca Ossaim lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abo, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as desinteiras, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males.
Um dia Xangô, que era o deus da justiça, julgou que todo os orixás deveriam compartilhar o poder de Ossaim, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Xangô sentenciou que Ossaim dividisse suas folhas com os outros orixás. Mas Ossaim negou-se dividir suas folhas com os outros orixás. Xangô então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Ossaim par que fossem distribuídas ao orixás. Iansã fez o que Xangô determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Xangô. Ossaim percebeu o que estava acontecendo e gritou: ”Euê uassá!” “As folhas funcionam!”
Ossaim ordenou que as folhas voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Ossaim. Quase todas as folhas retornaram para Ossaim. As que já estavamem poder de Xangôperderam o axé, perderam o poder de cura.
O orixá-rei, que era um orixá justo, admitiu a vitória de Ossaim. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Ossaim e que assim devia permanecer através dos séculos. Ossaim, contudo, deu uma folha a cada orixá, deu uma euê pra cada um deles. Cada folha com seus axés e seus ofós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais a folhas não funcionam. Ossaim distribuiu as folhas aos orixás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si.
Ossaim não conta seus segredos para ninguém, Ossaim nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os orixás ficaram gratos a Ossaim e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas.
Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ?
Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra.
Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho.
Perguntou: Òsanyìn onde vai?
Òsanyìn disse; “Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios”.
Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes.
Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia.
Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos.
Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Oxumarê era um rapaz muito bonito e invejado, suas roupas tinhas todas as cores do arco-íris e suas jóias de ouro e bronze faiscavam de longe. Todos queriam aproximar-se de Oxumarê, mulheres e homens, todos queriam seduzi-lo e com ele se casar.
Mas Oxumarê era também muito contido e solitário, preferia andar sozinho pela abóbada celeste, onde todos costumavam vê-lo em dia de chuva.
Certa vez Xangô viu Oxumarê passar, com todas as cores de seu traje e todo brilho de seus metais, Xangô conhecia a fama de Oxumare de não deixar ninguém dele se aproximar, preparou então uma armadilha para capturar o Arco-Íris. Mandou chamá-lo para uma audiência em seu palácio e, quando Oxumarê entrou na sala do trono, os soldados de Xangô fecharam as portas e janelas, aprisionando Oxumarê junto com Xangô.
Oxumarê ficou desesperado e tentou fugir, mas todas as saídas estavam trancadas pelo lado de fora. Xangô tentava tomar Oxumarê nos braços e Oxumarê escapava, correndo de um canto para outro. Não vendo como se livrar, Oxumarê pediu ajuda a Olorum e Olorum ouviu sua súplica.
No momento em que Xangô imobilizava Oxumarê, ele foi transformado numa cobra, que Xangô largou com nojo e medo. A cobra deslizou pelo chão em movimentos rápidos e sinuosos. Havia uma pequena fresta entre a porta e o chão da sala e foi por ali que escapou Oxumarê.
Assim livrou-se Oxumarê do assédio de Xangô, quando Oxumarê e Xangô foram feitos orixás, Oxumarê foi encarregado de levar água da Terra para o palácio de Xangô no Orum, mas Xangô não pode nunca aproximar-se de Oxumarê.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Oxumaré era um babalaô que atendia o rei de Ifé.
Porém não era um homem de fama, não tinha riquezas nem poder. Sentia-se humilhado, como humilhado vivera seu pai, conhecido pelo nome de Senhor-do-Xale-Colorido. Oxumaré estava triste e foi consultar um adivinho. Ele ensinou-lhe um ritual para tornar-se rico e poderoso. Deveria oferecer uma faca de bronze e quatro pombos, bem como oferecer búzios em boa quantidade.
Oxumaré, obediente, pôs-se a fazer a oferenda, mas, nessa mesma hora, o rei mandou chamá-lo. Oxumaré recusou-se a atender à ordem, dizendo que iria depois de terminada a cerimônia. O rei ficou enfurecido com a ousadia e deixou de pagar uma dívida a Oxumaré.
Quando Oxumaré retornou a sua casa, recebeu um chamado de Olocum, rainha de um país vizinho, que necessitava de sua sabedoria para curar o seu filho. Ifá foi consultado por Oxumaré, que lhe fez as oferendas necessárias e curou o filho de Olocum. Em gratidão ela ofereceu-lhe riquezas, cavalos, escravos e um lindo pano azul.
Retornando a casa com um inestimável tesouro, Oxumaré foi saudar o rei, que muito se admirou ao ver a opulência do babalaô antes tão pobre. Quis saber sobre os presentes recebidos.
Oxumaré contou da cura do filho de Olocum. O rei que tinha uma rivalidade nata com quem quer que fosse, não queria ficar abaixo de Olocum. Então ofereceu a Oxumaré uma roupa velha muito preciosa e muitos presentes.
Foi assim que Oxumaré tornou-se rico e respeitado.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Airá, aquele que se veste de branco, foi um dia às terras do velho Oxalá para levá-lo à festa que faziamem sua cidade. Oxaláera velho e lento, Por isso Airá o levava nas costas. Quando se aproximavam do destino, vira a grande pedreira de Xangô, bem perto de seu grande palácio. Xangô levou Oxalufã ao cume, para dali mostrar ao velho amigo todo o seu império e poderio. E foi lá de cima que Xangô avistou uma belíssima mulher mexendo sua panela. Era Oiá! Era o amalá do rei que ela preparava!
Xangô não resistiu à tamanha tentação. Oiá e amalá! Era demais para a sua gulodice, depois de tanto tempo pela estrada. Xangô perdeu a cabeça e disparou caminho abaixo, largando Oxalufã em meio às pedras, rolando na poeira, caindo pelas valas. Oxalufã se enfureceu com tamanho desrespeito e mandou muitos castigos, que atingiram diretamente o povo de Xangô.
Xangô, muito arrependido, mandou todo o povo trazer água fresca e panos limpos. Ordenou que banhassem e vestissem Oxalá. Oxalufã aceitou todas as desculpas e apreciou o banquete de caracóis e inhames, que por dias o povo lhe ofereceu. Mas Oxalá impôs um castigo eterno a Xangô. Ele que tanto gosta de fartar-se de boa comida.
Nunca mais pode Xangô comer em prato de louça ou porcelana. Nunca mais Xangô pode comer em alguidar de cerâmica. Xangô só pode comer em gamela de pau, como comem os bichos da casa e o gado e como comem os escravos.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Quando Baayani e Xangô forarrifriados, ainda no além, Baayani nasceu irmão mais velho.
Xangô nasceu em seguida. Ele é o irmão mais novo.
Baayani é um ser calmo e pacífico.
Se alguém o incomoda, ele não se zanga.
Se as pessoas entregam-se a atos de violência, Baayani não se envolve.
Ele tem compreensão e sabedoria, mas não tem força, nem bravura.
Estas qualidades, Olodumaré deu a seu irmão mais novo, Xangô. Baayani sabe disto e diz de vez em quando, que se ele não é capaz de brigar, ele agradece a Olodumaré tê-lo dado um irmão valente. As pessoas fizeram um provérbio:
"Se Baayani não é capaz de brigar, ele tem um valente irmão caçula".
Aqueles que Xangô combate são incontáveis.
Por causa de Dada Baayani, Xangô dizia constantemente:
"Se alguém resmungar qualquer coisa sobre Dada Baayani, isso lhes causará desgostos. Pois se trata de meu irmão mais velho".
É por esta razão que as pessoas que adoram Xangô, devem adorar primeiro Dada Baayani. Quando os dois descem à Terra,
Xangô conhece os talismãs para a proteção e a vitória.
Tudo o que as pessoas perguntam a Baayani, é Xangô que responde. Quando Dada Baayani fundou a cidade de Ixelê, ele era muito rico. Muita gente lhe pedia dinheiro emprestado.
Quando tomou-se rei em Oyó,
ele trouxe uma parte da sua riqueza e, vez por outra, trazia mais e mais de Ixalê.
Baayani era chamado Dada por causa de seus cabelos anelados. Quando Xangô quer possuir um de seus sacerdotes, as pessoas cantam primeiro:
Dada ma sokun mon "Dada não chore mais Dada não derrame mais lágrimas de sangue. As pessoas de Ixelê chegam na estrada
Dê- me um búzio para amarrar na minha cabeça".
Alusão, sem dúvida, às necessidades de dinheiro de Dada e à vinda de provisões, esperada de Ixelê.
Xangô põe-se, então, a dançar em honra de seu irmão mais velho Dada.
Existe uma dúvida a respeito de Baayani. Alguns acreditam que este é um dos nomes do irmão mais velho de Xangô, enquanto outros pensam tratar-se de uma das sua irmãs. Dizem, ainda outros, que se trata de sua mãe, Yamassé.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Xangô era filho de Oranian, valoroso guerreiro, cujo corpo era preto à direita e branco à esquerda.
Homem valente à direita, homem valente à esquerda. Homem valente em casa, homem valente na guerra.
Oranian foi o fundador do Reino de Oyó, na terra dos iorubas.
Durante suas guerras, ele passava sempre por Empé, em território Tapá, também chamado Nupê.
Elempê, o rei do lugar, fez uma aliança com Oranian e deu-lhe, também, sua filha em casamento.
Desta união nasceu este filho vigoroso e forte, chamado Xangô.
Durante sua infância em Tapá, Xangô só pensava em encrenca. Encolerizava-se facilmente, era impaciente, adorava dar ordens e não tolerava reclamação.
Xangô só gostava de brincadeira de guerra e de briga.
Comandando os pivetes da cidade, ele ia roubar os frutos das árvores. Crescido, seu caráter valente o levou a partir em busca de aventuras gloriosas. Xangô tinha um oxé - machado de duas lâminas; tinha, também, um saco de couro, pendurado no seu ombro esquerdo.
Nele encontravam-se os elementos do seu poder ou axé:
aquilo que ele engolia para cuspir fogo e amedrontar, assim, seus adversários, e a pedra de raio com as quais ele destruía as casas de seus inimigos.
O primeiro lugar que Xangô visitou chamava-se Kossô. Aí chegando, a pessoas assustadas disseram:
"Quem é este perigoso personagem?" "Ele é brutal e petulante demais!" "Não o queremos entre nós!"
"Ele vai atormentar-nos!" "Ele vai maltratar-nos!"
"Ele vai espalhar a desordem na cidade!" "Não o queremos entre nós!"
Mas Xangô os ameaçou com seu oxé.
Sua respiração virou fogo e ele destruiu algumas casas com suas pedras de raio. Todo mundo de Kossô veio pedir-lhe clemência, gritando: Kabiyei Sango, Kawo Kabiyei Sango Obá Kossôf "Vamos todos ver e saudar Xangô, Rei de Kossô!"
Quando Xangô tomou-se rei de Kossô, ele pôs-se à obra. Contrariamente ao que as pessoas desconfiavam e temiam, Xangô fazia as coisas com alma e dignidade.
Ele realizava trabalhos úteis à comunidade. Mas esta vida calma não convinha a Xangô. Ele adorava as viagens e as aventuras.
Assim, partiu novamente e chegou à cidade de Irê, onde morava Ogum. Ogum o terrível guerreiro,
Ogum o poderoso ferreiro.
Ogum estava casado com Iansã, senhora dos ventos e das tempestades. Ela ajudava Ogum em suas atividades.
Toda manhã, Iansã o acompanhava à forja e o ajudava, carregando suas ferramentas. Era ela, ainda, que acionava os sopradores para atiçar o fogo.
O vento soprava e fazia: fuku, fuku, fuku.
E Ogum batia sobre a bigorna: beng, beng, beng ...
Xangô gostava de sentar-se ao lado da forja para ver Ogum trabalhar. Vez por outra, ele olhava para Iansã.
Iansã, também, espiava furtivamente Xangô.
Xangô era vaidoso e cuidava muito da sua aparência, a ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher.
Ele fizera furos nos lobos de suas orelhas, onde pendurava argolas. Usava braceletes e colares de contas vermelhas e brancas.
Que elegância!
Muito impressionada pela distinção e pelo brilho de Xangô, Iansã fugiu com ele e tomou-se sua primeira mulher.
Xangô voltou por pouco tempo a Kossô,
seguindo depois, com seus súditos, para o reino de Oyó, o reino fundado, antigamente, por seu pai Oranian.
O trono estava ocupado por um meio-irmão de Xangô, mais velho que ele, chamado Dadá-
Ajaká - um rei pacífico, que amava a beleza e a arte.
Xangô instalou-se em Oyó, num novo bairro que chamou de Kossô. E conservou, assim, seu título de Obá Kossô - "Rei de Kossô".
Xangô guerreava para seu irmão Dadá.
O reino de Oyó expandia-se para os quatro cantos do mundo. Ele se estendeu para o Norte.
Ele se estendeu para o Sul.
Ele se estendeu para o Leste e ele se estendeu para o Oeste.
Xangô, então, destronou seu irmão Dadá-Ajaká e fez-se rei em seu lugar.
Kabiyei Sango Alafin Oyó Alayeluwa!
"Viva o Rei Xangô, dono do palácio de Oyó e Senhor do Mundo!" Xangô construiu um palácio de cem colunas de bronze.
Ele tinha um exército de cem mil cavaleiros.
Vivia entre suas mulheres e seus filhos. lansã, sua primeira mulher, era bonita e ciumenta. Oxum, sua segunda mulher, era coquete e dengosa.
Obá, sua terceira mulher, era robusta e trabalhadora. Sete anos mais tarde, foi o fim do seu reino:
Xangô, acompanhado de lansã, subira à colina Igbeti, cuja vista dominava seu palácio de cem colunas de bronze.
Ele queria experimentar uma nova fórmula que inventara para lançar raios.
Baoummm!!!
A fórmula era tão boa que destruiu todo o seu palácio!
Adeus mulheres, crianças, servos, riquezas, cavalos, bois e carneiros. Tudo havia desaparecido fulminado, espalhado e reduzido a cinzas.
Xangô, desesperado, seguido apenas de lansã, voltou para Tapá.
Entretanto, chegando a Kossô, seu coração não suportou tanta tristeza. Xangô bateu violentamente com os pés no chão e afundou-se terra adentro. lansã, solidária, fez o mesmo em Irá.
Oxum e Obá transformaram-se em rios e todos tornaram-se orixás.
Xangô, orixá do trovão, Kawo Kabiyei le! lansã, orixá da tempestade, Êpa Heyi Oiá!
Oxum, orixá das águas doces, Orê Yeyê ô!
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Um dia Orunmilá saiu de seu palácio para dar um passeio acompanhado de todo seu séqüito. Em certo ponto deparou com outro cortejo, do qual a figura principal era uma mulher muito bonita. Orunmilá ficou impressionado cm tanta beleza e mandou Exu, seu mensageiro, averiguar quer era ela. Exu apresentou-se ante a mulher com todas as reverências e falou que seu senhor, Orunmilá, gostaria de saber seu nome. Ela disse que era Iemanjá, rainha das águas e esposa de Oxalá.
Exu voltou à presença de Orunmilá e relatou tudo o que soubera da identidade da mulher. Orunmilá, então, mandou convidá-la ao seu palácio, dizendo que desejava conhecê-la. Iemanjá não atendeu o seu convite de imediato, mas um dia foi visitar Orunmilá.
Ninguém sabe ao certo o que se passou no palácio, mas o fato é que Iemanjá ficou grávida depois da visita a Orunmilá. Iemanjá deu a luz a uma linda menina. Como Iemanjá já tivera muitos filhos com seu marido, Orunmilá enviou Exu para comprovar se a criança era mesmo filha dele. Ele devia procurar sinais no corpo. Se a menina apresentasse alguma marca, mancha ou caroço na cabeça seria filha de Orunmilá e deveria ser levada para viver com ele.
Assim foi atestado, pelas marcas de nascença, que a criança mais nova de Iemanjá era de Orunmilá. Foi criada pelo pai, que satisfazia todos os seus caprichos. Por isso cresceu cheia de vontades e vaidades, o nome dessa filha é Oxum.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Certa vez, o rei de Oloú, precisava atravessar o rio onde vivia Oxum, o rio naquele dia se encontrava enfurecido e os exércitos do rei não podiam passar pelas traiçoeiras correntezas.
Oloú fez um pacto com Oxum para que baixasse o nível das águas, em troca lhe oferecia uma bela prenda, Oxum entendeu que Oloú estava prometendo Prenda Bela.
Prenda Bela era o nome da mulher de Oloú, filha dileta do rei de Ibadã. Oxum baixou o nível das águas e Oloú passou com seu exército. Oloú jogou no rio a bela prenda: uma grande oferenda com as melhores comidas e bebidas, os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos.
Tudo foi devolvido para as areias das margens de Oxum, Oxum só queria Prenda Bela, a princesa. Tempos depois, Oloú retornou vitorioso de sua expedição e, ao chegar ao rio, este novamente estava turbulento, o rei ofereceu de novo o mesmo que ofertara antes: uma bela prenda com as melhores comidas e bebidas os mais finos tecidos, jóias luxuosas e raros perfumes, correntes de ouro puro, banhos preciosos.
Oxum recusou o oferecido, tudo foi devolvido à praia, intocado, ela queria Prenda Bela, a esposa de Oloú, que estava grávida, contrariado, mas sem ter outra saída, Oloú lançou ao rio sua indefesa e grávida consorte, ao ser lançada às águas revoltas, Prenda Bela deu à luz uma criança, Oxum devolveu a criança; era somente Prenda Bela que ela queria.
Oloú seguiu seu caminho, retornando muito triste a seu reino, o rei Ibadã logo foi informado do fim trágico da filha, declarou guerra a Oloú, venceu-o e o expulsou para sempre do país.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Vivia Oxum no palácio em Ijimu, passava os dias no seu quarto olhando seus espelhos, eram conchas polidas onde apreciava sua imagem bela. Um dia saiu Oxum do quarto e deixou a porta aberta, sua irmã Oiá entrou no aposento, extasiou-se com aquele mundo de espelhos, viu-se neles.
As conchas fizeram espantosa revelação a Oiá, ela era linda! A mais bela! A mais bonita de todas as mulheres! Oiá descobriu sua beleza nos espelhos de Oxum, Oiá se encantou, mas também se assustou: era ela mais bonita que Oxum, a Bela.
Tão feliz ficou que contou do seu achado a todo mundo, e Oxum Apará remoeu amarga inveja, já não era a mais bonita das mulheres, vingou-se.
Um dia foi à casa de Egungum e lhe roubou o espelho, o espelho que só mostra a morte, a imagem horrível de tudo o que é feio, pôs o espelho do Espectro no quarto de Oiá e esperou, Oiá entrou no quarto, deu-se conta do objeto, Oxum trancou Oiá pelo lado de fora, Oiá olhou no espelho e se desesperou.
Tentou fugir, impossível, estava presa com sua terrível imagem, correu pelo quarto em desespero, atirou-se no chão, bateu a cabeça nas paredes, não logrou escapar nem do quarto nem da visão tenebrosa da feiúra. Oiá enlouqueceu, Oiá deixou este mundo.
Obatalá, que a tudo assistia, repreendeu Apará e transformou Oiá em orixá. Decidiu que a imagem de Oiá nunca seria esquecida por Oxum. Obatalá condenou Apará a se vestir para sempre com as cores usadas por Oiá, levando nas jóias e nas armas de guerreira o mesmo metal empregado pela irmã.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Oxum era muito bonita, dengosa e vaidosa. Como o são, geralmente, as belas mulheres.
Ela gostava de panos vistosos, marrafas de tartaruga e tinha, sobretudo, uma grande paixão pelas jóias de cobre. Antigamente, este metal era muito precioso na terra dos iorubas. Só uma mulher elegante possuía jóias de cobre pesadas.
Oxum era cliente dos comerciantes de cobre.
Omiro wanran wanran wanran omi ro!
"A água corre fazendo o ruído dos braceletes de Oxum!"
Oxum lavava suas jóias antes mesmo de lavar suas crianças. Mas tem, entretanto, a reputação de ser uma boa mãe e atende as súplicas das mulheres que desejam ter filhos.
Oxum foi a segunda mulher de Xangô.
A primeira chamava-se Oiá-Iansã e a terceira Obá. Oxum tem o humor caprichoso e mutável.
Alguns dias, suas águas correm aprazíveis e calmas, elas deslizam com graça, frescas e límpidas, entre margens cobertas de brilhante vegetação. Numerosos vãos permitem atravessar de um lado a outro.
Outras vezes, suas águas tumultuadas passam estrondando, cheias de correntezas e torvelinhos, transbordando e inundando campos e florestas.
Ninguém pode atravessar de uma margem para a outra, pois nenhuma ponte faz a ligação.
Oxum não toleraria uma tal ousadia!
Quando ela está em fúria, ela leva para longe e destrói as canoas que tentam atravessar o rio. Olowu, o rei de Owu, ia para a guerra seguido de seu exército. Por infelicidade, tinha que atravessar o rio num dia em que este estava enfurecido.
Olowu fez a Oxum uma promessa solene, entretanto, mal formulada.
Ele declarou:
"Se você baixar o nível de suas águas, para que eu possa atravessar e seguir para a guerra, e se eu voltar vencedor, prometo a você nkan rere", isto é, boas coisas.
Oxum compreendeu que ele falava de sua mulher, Nkan, filha do rei de Ibadan. Ela baixou o nível das águas e Olowu continuou sua expedição.
Quando ele voltou, algum tempo depois,
vitorioso e com um espólio considerável, novamente encontrou Oxum com o humor perturbado.
O rio estava turbulento e com suas águas agitadas.
Olowu mandou jogar sobre as vagas toda sorte de boas coisas, as nkan rere prometidas: tecidos, búzios, bois, galinhas e escravos; mel de abelhas e pratos de mulukun, iguaria onde misturam-se suavemente cebola, feijão fradinho, sal e camarões.
Mas Oxum devolveu todas estas coisas boas sobre as margens. Era Nkan, a mulher de Olowu, que ela exigia. Olowu foi obrigado a submeter-se e jogar a sua mulher nas águas. Nkan estava grávida e a criança nasceu no fundo do rio.
Oxum, escrupulosamente, devolveu o recém-nascido dizendo:
"É Nkan que me foi solenemente prometida e não a criança.
Tome-a!" As águas baixaram e Olowu voltou tristemente para sua terra.
O rei de Ibadan, sabendo do fim trágico de sua filha, declarou indignado: "Não foi para que ela servisse de oferenda a um rio que eu a dei em casamento a Olowu!" Ele guerreou com o genro e o expulsou do país. O rio Oxum passa em um lugar onde suas águas são sempre abundantes. Por esta razão é que
Larô, o primeiro rei deste lugar, aí instalou-se e fez um pacto de aliança com Oxum. Na época em que chegou, uma das suas filhas fora banhar-se.
O rio a engoliu sob as águas.
Ela só saiu no dia seguinte, soberbamente vestida, e declarou que Oxum a havia bem acolhido no fundo do rio.
Larô, para mostrar sua gratidão, veio trazer-lhe oferendas.
Numerosos peixes, mensageiros da divindade, vieram comer, em sinal de aceitação, os alimentos jogados nas águas.
Um grande peixe chegou nadando nas proximidades do lugar onde estava Larô. O peixe cuspiu
água, que Larô recolheu numa cabaça e bebeu, fazendo, assim, um pacto com o rio.
Em seguida, ele estendeu suas mãos sobre a água e o grande peixe saltou sobre ela. Isto é dito em ioruba: Atewo gba ejá.
O que deu origem a Ataojá, título dos reis do lugar. Ataojá declarou, então:
Oxum bgô!
"Oxum está em estado de maturidade, suas águas são abundantes." Dando origem ao nome da cidade de Oxogbô.
Todos os anos faz-se, aí, grandes festas em comemoração a todos estes acontecimentos.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Estava Oxossi o rei da caça a caminhar por um lindo bosque em companhia de sua amada esposa Oxum, dona da beleza da riqueza e portadora dos segredos da maternidade.
Quando de seu passeio, foi avistado por Oxum um lindo menino que estava a beira do caminho a chorar, encontrando-se perdido. Oxum de pronto agrado, acolheu e amparou o garoto, onde surgiu nesse exato momento uma grande identificação, entre ele, Oxum e Oxossi. Durante muitos anos Oxum e Oxossi, cuidaram e protegeram-lhe, sendo que, Oxum procurou durante todo esse tempo a mãe do menino, porém sem sucesso, resolveu tê-lo como próprio filho. O tempo foi passando e Oxossi, vestiu o menino com roupas de caça e ornamentou-o com pele de animais, proveniente de suas caçadas. Ensinou a arte da caça, de como manejar e empunhar o arco e a flecha, ensinou os princípios da fraternidade para com as pessoas e o dom do plantio e da colheita, ensinou a ser audaz e a ter paciência, a arte e a leveza, a astúcia e a destreza, provenientes de um verdadeiro caçador. Oxum por sua fez, ensinou ao garoto o dom da beleza, o dom da elegância e da vaidade, ensinou a arte da feitiçaria, o poder da sedução, a viver e sobreviver sobre o mundo das águas doces, ensinou seus segredos e mistérios. Foi batizado por sua mãe e por seu pai de Logum Edé, o príncipe das matas e o caçador sobre as águas. Viveu durante anos sobre a proteção de pai e mãe, tornando-se um só, aprendendo a ser homem, justo e bondoso, herdando a riqueza de Oxum e a fartura de Oxossi, adquirindo princípios de um e de outro, tornando-se herdeiro até nos dias de hoje de tudo que seu pai Oxossi carrega e sua mãe Oxum leva. Esse é Logum Edé.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
No início dos tempos, cada orixá dominava um elemento da natureza, não permitindo que nada, nem ninguém, o invadisse. Guardavam sua sabedoria como a um tesouro. É nesse contexto que vivia a mãe das água doces, Oxum, e o grande caçador Oxossi. Esses dois orixás constantemente discutiam sobre os limites de seus respectivos reinados, que eram muito próximos. Oxossi ficava extremamente irritado quando o volume das águas aumentavam e transbordavam de seus recipientes naturais, fazendo alagar toda a floresta.
Oxum argumentava, junto a ele, que sua água era necessária à irrigação e fertilização da terra, missão que recebera de Olorum. Oxossi não lhe dava ouvidos, dizendo que sua caça iria desaparecer com a inundação. Olorum resolveu intervir nessa guerra, separando bruscamente esses reinados, para tentar apaziguá-los. A floresta de Oxossi logo começou a sentir os efeitos da ausência das águas. A vegetação, que era exuberante, começou a secar, pois a terra não era mais fértil. Os animais não conseguiam encontrar comida e faltava água para beber. A mata estava morrendo e as caças tornavam-se cada vez mais raras. Oxossi não se desesperou, achando que poderia encontrar alimento em outro lugar. Oxum, por sua vez, sentia-se muito só, sem a companhia das plantas e dos animais da floresta, mas também não se abalava, pois ainda podia contar com a companhia de seus filhos peixes para confortá-la.
Oxossi andou pelas matas e florestas da Terra, mas não conseguia encontrar caçaem lugar algum. Emtodos os lugares encontrava o mesmo cenário desolador. A floresta estava morrendo e ele não podia fazer nada. Desesperado, foi até Olorum pedir ajuda para salvar seu reinado, que estava definhando. O maior sábio de todos explicou-lhe que a falta d’água estava matando a floresta, mas não poderia ajudá-lo, pois o que fez foi necessário para acabar com a guerra. A única salvação era a reconciliação. Oxossi, então, colocou seu orgulho de lado e foi procurar Oxum, propondo a ela uma trégua. Como era de costume, ela não aceitou a proposta na primeira tentativa. Oxum queria que Oxossi se desculpasse, reconhecendo suas qualidades. Ele, então, compreendeu que seus reinos não poderiam sobreviver separados, unindo-se novamente, com a benção de Olorum.
Dessa união nasceu um novo orixá, um orixá príncipe, Logum Edé, que iria consolidar esse “casamento”, bem como abrandar os ímpetos de seus pais. Logum Edé sempre ficou entre os dois, fixando-se nas margens das águas, onde havia uma vegetação abundante. Sua intervenção era importante para evitar as cheias, bem como a estiagem prolongada. Ele procurava manter o equilíbrio da natureza, agindo sempre da melhor maneira para estabelecer a paz e a fertilidade. Conta uma outra lenda que as terras e as águas estavam no mesmo nível, não havendo limites definidos. Logum Edé, que transitava livremente por esses dois domínios, sempre tropeçava quando passava de um reinado para o outro. Esses acidentes deixavam Logum Edé muito irritado. Um dia, após ter ficado seis meses vivendo na água, tentou fazer a transição para o reinado de seu pai, mas não conseguiu, pois a terra estava muito escorregadia. Voltou, então, para o fundo do rio, onde começou a cavar freneticamente, com a intenção de suavizar a passagem da água para a terra. Com essa escavação, machucou suas mãos, pés e cabeça, mas conseguiu fazer uma passagem, que tornou mais fácil sua transição. Logum Edé criou, assim, as margens dos rios e córregos, onde passou a dominar. Por esse motivo, suas oferendas são bem aceitas nesse local.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Logum Edé era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso. Era um caçador pretensioso e ganancioso, e muitos os bajulavam pela sua formosura. Um dia Oxalá conheceu Logum Edé e o levou para viver em sua casa sob sua proteção. Deu a ele companhia, sabedoria e compreensão. Mas Logum Edé queria mais, queria muito mais…
E roubou alguns segredos de Oxalá. Segredos que Oxalá deixara à mostra, confiando na honestidade de Logum Edé. O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, seu adô. Deu as costas a Oxalá e fugiu. Não tardou para Oxalá dar-se conta da traição do caçador que levara seus segredos. Oxalá fez todos os sacrifícios que cabia oferecer e muito calmamente sentenciou que toda a vez que Logum Edé usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio:
“Que maravilha o milagre de Oxalá!”. Toda a vez que usasse seus segredos alguma arte não roubada ia faltar.
Oxalá imaginou o caçador sendo castigado e compreendeu que era pequena a pena imposta. O caçador era presumido e ganancioso, acostumado a angariar bajulação. Oxalá determinou que Logum Edé fosse homem num período e no outro depois fosse mulher. Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo de caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Começar sempre de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho de Logum Edé. Para que o castigo durasse a eternidade, Oxalá fez de Logum Edé um orixá.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Obá escolheu a guerra como prazer nesta vida, enfrentava qualquer situação e assim procedeu com quase todos os orixás. Um dia, Obá desfiou para a luta Ogum, o valente guerreiro, o ardiloso Ogum, sabendo dos feitos de Obá, consultou os babalaôs, eles aconselharam Ogum a fazer oferendas de espigas de milho e quiabos, tudo pilado, formando uma massa viscosa e escorregadia.
Ogum preparou tudo como foi recomendado e depositou o ebó num canto do lugar onde lutariam. Chegada a hora, Obá, em tom desafiador, começou a dominar a luta, Ogum levou-a ao local onde estava a oferenda, Obá pisou no ebó, escorregou e caiu, Ogum aproveitou-se da queda de Obá, num lance rápido tirou-lhe os panos e a possuiu ali mesmo, tornando-se, assim, seu primeiro homem.
Mais tarde Xangô roubou Obá de Ogum.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Xangô era um conquistador de terras e de mulheres, vivia sempre de um lugar para o outro. Em Cossô fez-se rei e casou-se com Obá. Obá era sua primeira e mais importante esposa, Obá passava o dia cuidando da casa de Xangô, moía a pimenta, cozinhava e deixava tudo limpo.
Xangô era um conquistador de terras e de mulheres. Uma vez Xangô viu Oyá lavando roupa na beira do rio e dela se enamorou perdidamente. Com Oiá se casou, mas Xangô era um conquistador de terra e de mulheres e logo se casou de novo.
Oxum foi a terceira mulher. As três viviam às turras pelo amor do rei, para deixar Xangô feliz, Obá presenteou-lhe um cavalo branco, Xangô gostou muito do cavalo, Tempos depois Xangô saiu para guerrear levando Oiá consigo, seis meses se passaram e Xangô continuava longe, Obá estava desesperada e foi consultar Orunmilá, Orunmilá aconselhou Obá a oferecer em sacrifício um iruquerê, espanta-mosca feito com rabo de um cavalo, mandou pôr o iruquerê no teto da casa.
Para fazer a oferta prescrita pelo oráculo, Obá encomendou a Eleguá um rabo de cavalo, e Eleguá induzido por Oxum, mais que depressa cortou o rabo do cavalo branco de Xangô, mas não cortou somente os pêlos e sim a cauda toda e o cavalo sangrou até morrer.
Quando Xangô voltou da guerra, procurou o cavalo e não encontrou, deparou então com o iruquerê amarrado no teto da casa e reconheceu o rabo do cavalo desaparecido, soube pelas outras mulheres da oferenda feita pela primeira esposa.
Xangô ficou irado e mais uma vez repudiou Obá.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Filha de Nanã também é Ewá. Ewá é o horizonte, o encontro do céu com a terra. É o encontro do céu com o mar. Euá era bela e iluminada, mas era solitária e tão calada. Nanã, preocupada com sua filha, pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um amor, que arranjasse um casamento para Ewá. Mas ela desejava viver só, dedicada à sua tarefa de fazer criar a noite no horizonte, mandando sol com a magia que guarda na cabeça adô. Nanã porém, insistia em casar a filha.
Ewá pediu então ajuda a seu irmão Oxumarê. O Arco-Íris escondeu Ewá no lugar onde termina o arco de seu corpo. Escondeu Ewá por trás do horizonte e Nanã nunca mais pôde alcançá-la. Assim os dois irmãos passaram a viver juntos, lá onde o céu encontra a terra. Onde ela faz a noite com seu adô.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Orunmilá era um babalaô que estava com um grande problema. Orunmilá estava fugindo da morte, de Icu, que o queria pegar de todo jeito. Orunmilá fugiu de casa para se esconder. Correu pelos campos e ela sempre o perseguia obstinada. Correndo e correndo, Orunmilá chegou ao rio. Viu uma linda mulher lavando roupa. Era Ewá lavando roupa junto à margem. ”Por que corres assim, senhor? De quem tentas escapar?” Orunmilá só disse: ”hã, hã”. Foges da morte? Adivinhou Ewá. ”Sim”, respondeu ele.
Ewá então o acalmou. Ela o ajudaria. Ewá escondeu Orunmilá sob a tábua de lavar roupa, que na verdade era um tabuleiro de Ifá, com fundo virado para cima.E continuou lavando e cantando alegremente. Então chegou Icu, esbaforida. Feia, nojenta, moscas envolvendo-lhe o corpo, sangue gotejando pela pele, um odor de matéria putrefata empestando o ar. A morte cumprimentou Ewá e perguntou por Orunmilá. Ewá disse que ele atravessara o rio e que àquela hora devia estar muito, muito longe, muito alem de outros quarenta rios.
Ewá tirou Orunmilá de sob a tábua e o levou para casa são e salvo. Preparou um cozido de preás e gafanhotos servido com inhames bem pilados. À noite Orunmilá dormiu com Ewá e Ewá engravidou. Ewá ficou feliz pela sua gravidez e fez muitas oferendas a Ifá. Ewá era uma mulher solteira e Orunmilá com ela se casou. Foi uma grande festa e todos cantavam e dançavam. Todos estavam felizes. Ewá cantava: ”Orunmilá me deu um filho”. Orunmilá cantava: ”Ewá livrou-me da morte”. Todos cantavam: ”Ewá livra de Icu”. Todos cantavam: ”Ewá livra de Icu”.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Ewá filha de Obatalá, viva enclausurada em seu palácio. Oamor de Obatalá por ela era possessivo. A fama de sua beleza chagava a toda parte, inclusive aos ouvidos de Xangô. Mulherengo como era, Xangô planejou seduzir Ewá. Empregou-se no palácio para cuidar dos jardins. Um dia Ewá apareceu na janela e deslumbrou-se com o jardineiro. Ewá nunca vira um homem assim tão fascinante.
Xangô deu muitos presentes a Ewá. Deu-lhe uma cabaça enfeitada com búzios, com uma obra por fora e mil mistérios por dentro, um pequeno mundo de segredos, um adô. E Ewá entregou-se a Xangô. Ele fez Ewá muito infeliz até que ela renegou sua paixão.
Decidiu se retirar do mundo dos vivos e pediu ao pai que a enviasse a um lugar distante, onde homem algum pudesse vê-la novamente. Obatalá deu então a Ewá o reino dos mortos, que os vivos temem e evitam. Desde então é ela quem domina o cemitério. Ali ela entrega a Oyá os cadáveres dos humanos, os mortos que Obaluaê conduz a orixá Oco, e que orixá Oco devora para que voltem novamente à terra, terra de Nanã de que foram um dia feitos. Ninguém incomoda Ewá no cemitério.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Antes de tornar-se esposa de Xangô, Oyá vivia com Ogun. Ela vivia com o ferreiro e ajudava-o em seu ofício, principalmente manejando o fole para ativar o fogo na forja. Certa vez Ogun presenteou Oyá com uma varinha de ferro, que deveria ser usada num momento de guerra. A varinha tinha o poder de dividir em sete partes os homens e em nove partes as mulheres. Ogun dividiu esse poder com a mulher.
Na mesma aldeia morava Xangô, ele sempre ia à oficina de Ogun apreciar seu trabalho e em várias oportunidades arriscava olhar para sua bela mulher. Xangô impressionava Oyá por sua majestade e elegância. Um dia os dois fugiram para longe de Ogun, que saiu enciumado e furioso em busca dos fugitivos. Quando Ogun os encontrou, houve uma luta de gigantes. Depois de lutar com Xangô, Ogun aproximou-se de Oyá e a tocou com sua varinha, e nesse mesmo tempo Oyá tocou Ogun também, foi quando o encanto aconteceu: Ogun dividiu-se em sete partes, recebendo o nome de Ogun Mejê, e Oyá foi dividida em nove partes, sendo conhecida como Iansã, “Iyámesan”, a mãe transformou-se em nove.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Um dia Oxum e outro alguém queriam fazer mal a Iansã, Colocaram o feitiço num bracelete de Oxum e o puseram dentro de uma caixa para que fosse entregue a Iansã.
Agbô, então, foi chamado para levá-lo a Iansã, Agbô era o dono dos carneiros, dono dos agbôs. Tudo o que ocorria no palácio era espalhado por meio da língua de Agbô, o Carneiro, mas Iansã, com sua arguta intuição, pressentiu o que lhe vinha por meio de Agbô.
Ela, então, foi ao encontro do Carneiro e na forma de um vento abriu a caixa e trocou o bracelete por um pequeno pássaro. Agbô foi um instrumento contra Iansã, mas Iansã sentiu-se traída por ele.
Desde então Iansã odeia carneiros e não aceita nem se quer comê-los.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Certa vez houve uma festa com todas as divindades presentes. Omulu-Obaluaê chegou vestindo seu capucho de palha. Ninguém o podia reconhecer sob o disfarce e nenhuma mulher quis dançar com ele. Só Oiá, corajosa, atirou-se na dança com o Senhor da Terra.
Tanto girava Oiá na sua dança que provocava vento. E o vento de Oiá levantou as palhas e descobriu o corpo de Obaluaê. Para surpresa geral, era um belo homem.
O povo o aclamou por sua beleza. Obaluaê ficou mais do que contente com a festa, ficou grato. E, em recompensa, dividiu com ela o seu reino. Fez de Oiá a rainha dos espíritos dos mortos.
Rainha que é Oiá Igbalé, a condutora dos eguns. Oiá então dançou e dançou de alegria. Para mostrar a todos seu poder sobre os mortos, quando ela dançava agora, agitava no ar o iruquerê, o espanta-mosca com que afasta os eguns para o outro mundo.
Rainha Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos. Rainha que foi sempre a grande paixão de Omulu.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Ogum foi um dia caçar na floresta.
Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção.
Ogum avaliou logo a distância que os separava e preparou-se para matar o animal com a sua espada.
Mas viu o búfalo parar e, de repente, baixar a cabeça e despir-se de sua pele. Desta pele saiu uma linda mulher.
Era Iansã, vestida com elegância, coberta de belos panos, um turbante luxuoso amarrado à cabeça e ornada de colares e braceletes. Iansã enrolou sua pele e seus chifres,
fez uma trouxa e escondeu num formigueiro.
Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade, sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo.
Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa, foi para casa, guardou-a no celeiro de milho e seguiu, também, para o mercado.
Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a.
Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo. Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria. Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento.
Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo. Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria.
Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta.
Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele. "Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?" Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava.
Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro. Ogum fingiu
inocência e declarou que nada tinha a ver, nem com o formigueiro nem com o que estava nele. Iansã não se deixou enganar e disse-lhe:
"Eu sei que você escondeu minha pele e meu chifre. Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijo. Ogum, vou me casar com você e viver em sua casa.
Mas, existem certas regras de conduta para comigo.
Estas regras devem ser-sespeitadas, também, pelas pessoas da sua casa. Ninguém poderá me dizer: Você é um animal!
Ninguém poderá utilizar cascas de dendê para fazer fogo. Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa".
Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã.
Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres e explicou-lhes como deveriam comportar-se.
Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã, nem insultá-Ia. A vida organizou-se.
Ogum saía para caçar ou cultivar o campo. Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres.
Ela deu à luz uma criança, depois uma segunda e uma terceira ... Ela deu à luz nove crianças. Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã.
Cada vez mais enciumadas e hostis, elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã. Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma.
Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo. Contou que Iansã era, na realidade, um animal; que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho. Ogum recomendou-lhes ainda:
"Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará. Não lhes digam jamais que é um animal!"
Depois disso, logo que Ogum saía para o campo, as mulheres insultavam Iansã: "Você é um animal! Você é um animal!!"
Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa:
"Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!" Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado.
Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro.
Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho, encontrou sua pele e seus chifres.
Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia.
Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele. Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando.
Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas.
Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga, pisou sobre os corpos e redou-os no ar. Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo:
"Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma? Nossa mãe, nossa mãe!! Que você vai fazer? Nossa mãe, nossa mãe! !! Que será de nós?"
O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes: "Eu vou
voltar para a floresta; lá não é um bom lugar para vocês. Mas, vou lhes deixar uma lembrança."
Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou:
"Quando qualquer perigo lhes ameaçar, quando vocês precisarem dos meus conselhos, esfreguem estes chifres um no outro.
Em qualquer lugar que vocês estiverem, em qualquer lugar que eu estiver, escutarei suas
queixas e virei socorrê-los."
Eis porque dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997
Iemanjá e Orunmilá eram casados. Orunmilá era um grande adivinho, com seus dotes sabia interpretar os segredos dos búzios. Certa vez Orunmilá viajou e demorou para voltar e Iemanjá viu-se sem dinheiroem casa, Então, usando o oráculo do marido ausente, passou a atender uma grande clientela e fez muito dinheiro.
No caminho de volta para casa, Orunmilá ficou sabendo que havia em sua aldeia uma mulher de grande sabedoria e poder de cura, que com a perfeição de um babalaô jogava búzios. ficou desconfiado, quando voltou, não se apresentou a Iemanjá, preferindo vigiar, escondido, o movimento em sua casa.
Não demorou a constatar que era mesmo a sua mulher a autora daqueles feitos, Orunmilá repreendeu duramente Iemanjá, ela disse que fez aquilo para não morrer de fome, mas o marido contrariado a levou perante Olofim-Olodumare.
Olofim reiterou que Orunmilá era e continuaria sendo o único dono do jogo oracular que permite a leitura do destino, Ele era o legítimo conhecedor pleno das histórias que forma a ciência dos dezesseis odus. Só o sábio Orunmilá pode ler a complexidade e as minúcias do destino, mas reconheceu que Iemanjá tinha um pendor para aquela arte, pois em pouco tempo angariara grande freguesia.
Deu a ela então autoridade para interpretar as situações mais simples, que não envolvessem o saber completo dos dezesseis odus, assim as mulheres ganharam uma atribuição antes totalmente masculina.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Olocum vivia na água e vivia na terra, anatureza de Olocum era anfíbia, Olocum tinha vergonha de sua natureza, pois ela não era nem uma coisa nem outra.
Ela se sentia muito atraída por Orixá Ocô, mas não queria ter relações com ele, pois temia ser objeto de ridículo. Olocum, então, pediu conselho a Olofim, que lhe assegurou que Orixá Ocô era um homem sério e reservado.
Olocum criou coragem e foi viver com o orixá lavrador, mas este descobriu a particularidade que existia na natureza de Olocum e contou a todos. Todos ficaram sabendo da ambígua natureza de Olocum, a vergonha fez com que Olocum se escondesse no fundo do oceano, onde tudo é desconhecido e aonde ninguém nunca pode chegar.
Olocum nunca mais deixou o mar e agora só esse é o seu domínio, outros dizem que Olocum se transformou numa sereia, ou uma serpente marinha que habita os oceanos,mas isso ninguém jamais pôde provar.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Dizem que quando Olorum encarregou Oxalá de fazer o mundo e modelar o ser humano, o orixá tentou vários caminhos. Tentou fazer o homem de ar, como ele. Não deu certo, pois o homem logo se desvaneceu. Tentou fazer de pau, mas a criatura ficou dura. De pedra ainda a tentativa foi pior. Fez de fogo e o homem se consumiu. Tentou azeite, água e até vinho-de-palma, e nada. Foi então que Nana veio em seu socorro, apontou para o fundo do lago com seu ibiri, seu cetro e arma, e de lá retirou uma porção de lama.
Nana deu a porção de lama a Oxalá, o barro do fundo da lagoa onde morava ela, a lama sob as águas, que é Nana.
Oxalá criou o homem, o modelou no barro, com um sopro de Olorum ele caminhou, com a ajuda dos orixás povoou a terra. Mas tem um dia que o homem morre e seu corpo tem que retornar à terra, voltar à natureza de Nana Buruku.
Nana deu a matéria no começo, mas quer de volta no final tudo o que é seu.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
A rivalidade entre Nanã Burucu e Ogum data de tempos, Ogum, o ferreiro guerreiro, era o proprietário de todos os metais, eram de Ogum os instrumentos de ferro e aço, por isso era tão considerado entre os orixás, pois dele todas as outras divindades dependiam.
Sem a licença de Ogum não haviam sacrifícios; sem sacrifício não havia orixá, Ogum é o Oluobé, o Senhor da Faca, todos os orixás o reverenciavam, mesmo antes de comer pediam licença a ele pelo uso da faca, o obé com que se abatiam os animais e se preparava a comida sacrificial.
Contrariada com essa precedência dada a Ogum, Nanã disse que não precisava de Ogum para nada, pois se julgava mais importante do que ele. “Quero ver como vais comer, sem faca para matar os animais”, disse Ogum.
Ela aceitou o desafio e nunca mais usou a faca, foi sua decisão que, no futuro, nenhum de seus seguidores se utilizaria de objetos de metal que sacrifícios feitos a ela fossem feitos sem a faca, sem precisar da licença de Ogum.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
O filho de Oxalá tornou-se um guerreiro forte e decidiu um dia conquistar um reino para si. Partiu em companhia de seu amigo Auoledjê, conquistou Ejigbô, tornando-se seu rei, o Elejigbô. O rei tinha uma grande paixão, comer inhame pilado, e comia com gula, tanto que o chamavam Oxaguiã, que quer dizer “Oxalá Comedor de Inhame Pilado”.
Um dia Auoledjê, que era grande babalaô, precisou partir de Ejigbô, antes disso, aconselhou Oxaguiã que fizesse oferendas, que tornariam o reino próspero.
Assim, como previa Auoledjê, Ejigbô tornou-se uma grande cidade, rica e bem guardada pelos bravos soldados de Oxaguiã. O rei Elejigbô vivia em fausto entre seus súditos, por quem era chamado de “Kabiyesi”, que é o mesmo que Sua Majestade.
Na intimidade os amigos o chamavam de “Comedor de Inhame Pilado”, mas em público isso era uma heresia. anos mais tarde, Auoledjê retornou a Ejigbô. ao adentrar a cidade, procurou logo por oxaguiã, “Onde está o Comedor de Inhame Pilado?”, perguntou, os soldados, que não o conheciam, ficaram furiosos com tamanha insolência. Isso era jeito de se referir ao rei?
Prenderam e maltrataram o desconhecido amigo de Kabiyesi, Auoledjê ressentiu-se da humilhação, com seus poderes mágicos, vingou-se. Durante sete anos todas as catástrofes conhecidas, e não faltando a seca, assolaram o reino de Oxaguiã.
Oxaguiã, desesperado, procurou os adivinhos, e pelo oráculo eles viram a prisão de Auoledjê, um amigo de rei estava preso injustamente. Oxaguiã correu para prisão para libertar o velho amigo. Oxaguiã libertou-o, mas ainda ressentido, escondeu-se na mata.
Elejigbô buscou o velho amigo, suplicando seu perdão, Auoledjê cedeu com uma condição: que nuca aquele povo se esquecesse dessa injustiça, Todos os anos o povo deveria flagelar-se, em memória do funesto acontecido.
Assim, todos os anos, o rei deveria mandar pessoas à floresta cortar varetas. os súditos, divididos em dois grupos, tomariam as varas, simulariam golpes uns nos outros, sem parar, até que as varetas se quebrassem, para que nunca se esquecessem daquela injustiça praticada contra o amigo de Oxaguiã.
Assim foi feito e o reino de Oxaguiã voltou à tranqüilidade e Oxaguiã foi o maior dos reis de Ejigbô. Quando ele foi para o Orum, transformado em orixá, seu culto não se esqueceu do velho amigo babalaô, coma as varetas de Oxaguiã, com atoris, seus adeptos renovam sempre a memória da injustiça, para que ela não volte a acontecer.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Oxalá, rei de Ejigbô, vivia em guerra, ele tinha muitos nomes, uns o chamavam de Elemoxó, outros de Ajagunã, ou ainda Aquinjolê, filho de Oguiriniã. Gostava de guerrear e de comer, gostava muito de uma mesa farta, comia caracóis, canjica, pombos brancos, mas gostava mais de inhame amassado, jamais se sentava para comer se faltasse inhame.
Seus jantares se estavam sempre atrasados, pois era muito demorado preparar o inhame, Elejigbô, o rei de Ejibô, estava assim sempre faminto, sempre castigando as cozinheiras, sempre chegando tarde para fazer a guerra.
Oxalá então consultou os babalaôs, fez oferendas a Exu e trouxe para humanidade uma nova invenção. O rei de Ejigbô inventou o pilão e com o pilão ficou mais fácil preparar o inhame e Elejigbô pôde se fartar e fazer todas as suas guerras.
Tão famoso ficou o rei por seu apetite pelo inhame que todos agora o chamam de “Orixá Comedor de Inhame Pilado”, o mesmo que Oxaguiã na língua do lugar.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás – Reginaldo Prandi – 2001
Olagbirin, aquele que jamais recusa um combate, está na miséria. Ele vai consultar Ifá.
"Que fazer para ter dias melhores?"
Os adivinhos o aconselham a fazer oferendas.
Oferendas de dezesseis galinhas d’angola, dezesseis coelhos e trinta e dois búzios da costa. Olagbirin é um caçador.
Não é difícil para ele encontrar no campo as galinhas d'angola e os coelhos. Com trabalho e muito esforço, ele consegue juntar o dinheiro necessário e faz a oferenda. Olagbirin volta a caçar e mata um elefante.
Ao abrir o animal, seus intestinos são como troncos de madeira dos quais ele retira jóias diversas, como pérolas maravilhosas e muitas coroas. Olagbirin continua caçando.
Ele mata outros elefantes e, no interior deles, encontra, sempre, riquezas no lugar dos
intestinos, como belos tecidos e lindas pérolas. Olagbirin sacrifica as galinhas d'angola.
Quando estas galinhas gritam, elas dizem:
"Isto vai te ajudar, kan, kan, kan. Isto vai te ajudar, kan, kan, kan."
As oferendas({1}) feitas assim por ele cantam:
"Se ele me ajudar, eu logo terei dinheiro Ele me ajudará como a galinha d'angola Kan, kan,kan.
Se ele me ajudar, eu logo terei mulheres. Ele me ajudará como a galinha d'angola. Kan, kan, kan.
Se ele me ajudar, eu logo terei filhos. Ele me ajudará como a galinha d'angola. Kan, kan, kan".
Este homem, chamado Olagbirin, é aquele que nós chamamos Orixá Okô - o "orixá dos campos".
Aquele que, quando tomou-se rico, transportava sua fortuna do campo para casa. E as pessoas diziam:
"É o orixá que traz a riqueza dos campos, aquele chamado Orixás dos Campos (Orisha Oko)”.
Nascimento de ORANIAN
Quando Ogum fez a guerra contra Ogotum, ele trouxe sete mulheres. Uma destas escravas, Lakangê, era tão bonita que ele a escondeu para si, amando-a secretamente.
Mas, alguns falsos amigos apressaram-se em denunciá-lo ao seu pai. Odudua, furioso, mandou chamar Ogum e falou-lhe, gritando:
"Que atrevimento!
Você traz-me seis mulheres, verdadeiras feiúras e, segundo disseram-me, você deixou para si a mais bela, que parece ser uma jóia delicada.
Ah! Os jovens não têm mais respeito nem consideração por seus pais! Onde vamos chegar com tanta insolência e desrespeito?
Ogum, traga-me esta mulher sem mais um minuto de demora!" Ogum, assustado com a cólera de seu pai, não ousou confessar o que se passava entre ele e Lakangê. Com a morte na alma, ele entregou sua bela mulher a Odudua. Este, encantado, fez dela sua companheira predileta.
Nove meses mais tarde, Lakangê teve um filho.
Para grande surpresa de todos, o corpo do recém-nascido tinha a originalidade de ser metade preto, metade branco.
Metade preto, à direita, pois a pele de Ogum era muito escura.
Metade branco, à esquerda, pois a pele de Odudua era muito clara. Odudua, confuso, baixou a cabeça e nada soube dizer.
Mais tarde, esta criança tomou-se um guerreiro famoso. Homem valente à direita homem valente à esquerda.
Homem valente em casa, homem valente na guerra. Ele foi o fundador do reino de Oyó e o pai de Xangô.
Lendas Africanas dos Orixas – Pierre Fatumbi Verger – 1997